O patrimônio artístico, histórico e cultural dos cemitérios

  • 08/08/2025
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O patrimônio artístico, histórico e cultural dos cemitérios

O especialista em turismo cemiterial Tiago Varges, em visita ao Cemitério Campo Santo, em Salvador.


“O cemitério é por excelência uma síntese das sociedades”. A afirmação é do doutor em História amapaense, Tiago Varges, que pesquisa arte e história cemiterial há aproximadamente 10 anos. Para ele, numa visita ao cemitério é possível perceber aspectos importantes da história, da cultura, da economia e da política do lugar. “As sepulturas, túmulos, mausoléus e jazigos, além da sua função prática de guardar o corpo, tem uma função de preservar as memórias e a história do morto, que converte muitos cemitérios em grandes museus a céu aberto”, explica.

De acordo com o professor, em Salvador dois importantes cemitérios, se destacam no cenário nacional e são paradas obrigatórias para quem visitar a capital baiana com o objetivo de conhecer a sua história. O primeiro é o Cemitério Campo Santo, que possui uma arte funerária riquíssima com destaque para o mausoléu da família Barão de Cajaíba, que possui a famosa escultura denominada Alegoria da Fé (1865), tombada em 1966, pelo IPHAM, como patrimônio histórico. As visitas são guiadas mediante agendamento.

O segundo se trata do belíssimo Cemitério Britânico, conhecido também como Cemitério Inglês de Salvador, fundado no início do século XIX, e que é considerado um dos mais antigos cemitérios protestantes do Brasil. Este também recebe visitantes mediante agendamento. “Visitar um cemitério pode ser uma experiência enriquecedora, um ponto de reflexão sobre a história de um lugar, a arte e a cultura de um povo, além de uma oportunidade para refletir sobre a vida. Por isso, é bom buscar informações sobre os cemitérios da sua cidade e visitá-los com um outro olhar, na perspectiva de um espaço repleto de histórias, memórias e arte”, sugere.

Acrescentando que, os antepassados de uma cidade estão em seus túmulos onde estão registrados elementos de suas memórias individuais (nomes, fotografias, profissão, elementos familiares), mas também aspectos da memória coletiva do lugar. “Uma cidade, formada por fluxos de imigrações, por exemplo, sua característica está presente na arte funerária dos seus cemitérios. Uma região que se desenvolveu ligada a um determinado nicho econômico, como o minério ou o café, seus elementos vão aparecer em seus cemitérios”, explica.
Tiago Varges que defendeu sua tese de doutorado em História sobre este tema, com o título: Cemitérios Amazônicos: um estudo sobre os espaços funerários do Estado do Amapá - Séculos XX – XXI, já visitou cemitérios em quase todos os estados do Brasil e em diversos países ao redor do mundo, como Angola, Moçambique, África do Sul, México, Panamá, Argentina, entre outros. “Não é apenas um ambiente de luto e tristeza, mas espaço de história, de memórias, um documento importante para a compreensão da formação histórica de uma cidade, de uma região ou país”, observa.

Ao redor do mundo, cemitérios famosos recebem milhares de visitantes todos os anos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Entre eles está o Père Lachaise em Paris, França; o Cemitério Monumental de Staglieno, em Gênova, Itália; e o Cemitério de Arlington em Washington, nos Estados Unidos. Na América Latina, há diversos cemitérios importantes, mas o mais visitado é o Recoleta, em Buenos Aires, Argentina. “Os turistas vão a esses cemitérios por diversos motivos, o mais comum é a visitação de túmulos de pessoas famosas, como o túmulo da eterna Primeira-dama argentina Evita Perón. Mas também, para apreciar a belíssima arte funerária existente nestas necrópoles”, conta.

No Brasil, também há cemitérios de destaque como o Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, o Cemitério da Consolação, em São Paulo. Em Belém do Pará, temos o Cemitério da Soledade, que foi revitalizado e no ano de 2023 se tornou um parque cemiterial. “O turismo cemiterial ainda é um campo pouco explorado no país, entretanto, nos últimos anos diversas pesquisas têm sido feitas e circuitos de visitação mediata tem surgido. Muitas dessas iniciativas têm sido efetivadas graças ao trabalho do ABEC – Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais, fundada em 2003, pelos pesquisadores do tema: Dra. Maria Eliza Borges, o geógrafo Eduardo Coelho Morgado Rezende e o historiador Harry Rodrigues Bellomo.”, destacou, revelando que, a associação, tem por objetivo difundir os estudos cemiteriais, bem como promover iniciativas de preservação da história e memória cemiterial brasileira.

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