Espetáculo “Vovô” será apresentado em Santo Amaro

  • 28/08/2025
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Espetáculo “Vovô” será apresentado em Santo Amaro

Babalorixá Sérgio de Ayrá (Foto: Thiago Luiz).


Nesta sexta-feira (29), às 14h, o projeto “Raízes que Povoam” apresenta o espetáculo “Vovô”, no histórico Terreiro Ilê Yá Oman, em Santo Amaro. Com 92 anos de tradição, o espaço será palco de uma celebração que revisita a figura do avô negro, reconhecendo-o como pilar de afeto, guardião da memória e símbolo de resistência das famílias pretas brasileiras. O projeto é uma realização do Instituto de Arte e Cultura da Bahia (IAC-BA) / Teatroescola.

No mesmo dia, das 9h às 12h, antes da apresentação teatral, será realizado um workshop de introdução à produção cultural, exclusivo para membros do terreiro e estudantes do Campus CECULT da UFRB, conduzido por Nell Araújo, fundador e gestor do IAC-BA e do Teatroescola, a primeira escola artística inclusiva do Nordeste, além de gestor do Teatro Jorge Amado. O objetivo é capacitar os participantes nas áreas de elaboração de projetos, comunicação, gestão financeira e estratégias para o fortalecimento da cultura de terreiro. Abrir nossas portas para o espetáculo é uma forma linda de ligar o terreiro e a comunidade, além de quebrar paradigmas. Ao trazer o projeto para uma comunidade candomblecista, você acaba não só ensinando, mas também aprendendo. Isso é de suma importância para a convivência e para a afirmação de identidade afro-religiosa, pois oferece um contato tanto com o cultural quanto com o sagrado”, comenta o Babalorixá Sérgio de Ayrá, líder espiritual do Terreiro Ilê Yá Oman.

Para a diretora de produção e idealizadora da circulação nos terreiros, Juliana Sousa, não haveria lugar mais potente para apresentar o espetáculo do que os próprios terreiros, que são guardiões dos valores da figura do avô, da paternidade negra e do respeito aos mais velhos. “Eu entendo os terreiros como espaços vivos de preservação da memória, da ancestralidade e da oralidade, onde a história do povo negro é mantida, transmitida e ressignificada cotidianamente. São espaços que reúnem diversas gerações, onde o mais velho tem lugar de escuta e respeito, onde se aprende a pedir bênção, a valorizar os saberes ancestrais, e onde o corpo, a fala e a memória são sagrados”, avalia.

“Além disso, Vovô também traz a referência simbólica do Orixá Obaluayê, que está diretamente ligado à terra, à cura, à sabedoria ancestral e ao cuidado com os ciclos da vida. Por tudo isso, fazer essa circulação dentro de terreiros é uma escolha conceitual e afetiva, que fortalece o sentido do espetáculo e também devolve à comunidade de terreiro um espaço de protagonismo dentro da cena cultural”, completa Juliana. Criado em abril de 2021, durante a pandemia, “Vovô” nasceu como uma criação pensada para o formato virtual, gravada dentro de casa com celulares. Em 2023, ganhou adaptação para o formato presencial, sob direção de Leno Sacramento, artista do Bando de Teatro Olodum. Com dramaturgia sensível e poética, a montagem é interpretada pelos atores soteropolitanos Pedro Zaki e Rafa Martins e agora assume uma nova perspectiva, com diferentes movimentos, expressões e novas sensações.

Fundado em 1933 por Valeriana Lopes Pinto, conhecida como Mãe Vavá, o Ilê Yá Oman é um dos mais antigos templos de matriz africana de Santo Amaro. Pertencente à nação Ketu, o terreiro foi conduzido por Mãe Lídia T’Oxoguiãn por 49 anos, consolidando-se como referência espiritual. Orixá da fundadora, Nanã Buruku ocupa lugar de grande reverência, reconhecida como senhora da sabedoria ancestral e guardiã do ciclo da vida e da morte. Atualmente, a casa é liderada pelo Babalorixá Sérgio de Ayrá, cujo orixá de cabeça é Ayrá, divindade dos ventos, trovões e redemoinhos, associado à paz, à ordem e à ligação com Oxalá. Além de sua força religiosa, o terreiro desempenha um papel ativo na preservação cultural e comunitária. Entre suas iniciativas, está o grupo Elas do Axé, formado por mulheres que produzem artesanato, fortalecendo a economia criativa local. O Ilê Yá Oman também mantém viva a tradição alimentar ancestral, com destaque para a produção de comidas típicas, como o cuscuz, que reafirma a importância da culinária sagrada como patrimônio imaterial.

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